Recibido: 19 de diciembre de 2017 | Aceptado: 31 de mayo de 2018
DOI: 10.22199/S07187475.2018.0003.00001
Universidade Federal do Piauí (UFPI)- Parnaíba-Piauí- Brasil.
Universidade Federal do Piauí (UFPI)- Parnaíba-Piauí- Brasil.
Universidade Federal do Piauí (UFPI)- Parnaíba-Piauí- Brasil.
danielealbuquerque552@gmail.com
Universidade Federal do Piauí (UFPI)- Parnaíba-Piauí- Brasil.
Universidade Federal do Piauí (UFPI) - Parnaíba-Piauí- Brasil.
Objetivo: observar e analisar, os campos de como estudantes universitários do curso de psicologia representam a saúde mental e ser universitário baseando-a na Teoria das Representações Sociais. Metodo: Foi utilizada a Técnica de Associação Livre de Palavras (TALP), com uma amostra de 63 estudantes universitários cursando a partir do terceiro período, com idade entre 18 e 36 anos, sendo 28,6% homens e 71,4% mulheres. Resultados: revelan suas representações quanto aos estímulos universitário, psicologia e saúde mental, possibilitando compreender a rotina acadêmica desses estudantes, sua representação quanto a identidade profissional e ainda, como estes concebem a saúde mental com a qual lidam diretamente no curso, observando a escassez de pesquisas voltadas para este público em específico. Conclusao: Constatou-se a relevância da Teoria das RS para compreensão dos temas a partir do olhar dos sujeitos pesquisados
Universitários, Representações Sociais, Psicologia, Saúde Mental.
Objective: This article aims at observing and analyzing how psychology undergraduate students from the course Psychology represent mental health and college life. The study is based on the Social Representations Theory (SRT). Method: The Free Association Technique (FAT) was used with a sample of 63 university students (28.6% male, 71.4% female) from the third period on, with an age range between 18 and 36. Results: The importance of the SRT for the comprehension of mental health and college life was confirmed. Representations regarding university stimuli, psychological and mental health are directly related to the course. Conclusion: Lack of research aiming this specific audience is perceived.
Undergraduate, Social Representations, Psychology, Mental Health.
Objetivo: observar y analizar los campos de cómo estudiantes universitarios de psicología representan la salud mental y ser un estudiante universitario en dicho curso, basados en la Teoría de las Representaciones Sociales. Método: Se utilizó el Test de Libre Asociación de Palabras (TALP), con una muestra de 63 estudiantes universitarios que estudian desde el tercer período en adelante, con edades entre 18 y 36 años, 28.6% hombres y 71.4% mujeres. Resultados: la información recolectada revela sus representaciones con respecto a los estímulos universitarios, la psicología y la salud mental, haciendo posible entender la rutina académica de estos estudiantes, su representación en relación con el profesional, la identidad y cómo conciben la salud mental con la que tratan directamente en el curso, señalando la escasez de investigaciones dirigidas a este público en particular. Conclusión: Se verificó la relevancia de la teoría de la RS para comprender los temas desde la perspectiva de los individuos investigados
Pregrado, Representaciones Sociales, Psicología, Salud Mental.
COMO CITAR:
Pinheiro Da Silva, C., Araujo De Sousa, F., Nogueira Albuquerque, F. D. , Andrade Almeida, T. & Fernándes De Araújo, L. (2018). Psicologia e saúde mental: Um estudo das representações entre universitários de psicologia. Salud & Sociedad, 9(3), 210-220. doi: 10.22199/S07187475.2018.0003.00001
Adentrar a Universidade é considerado por muitos jovens um grande feito, que ao longo da vida do sujeito é pregado de forma positiva entre amigos e familiares (Almeida & Soares, 2004). Para se adaptar às instituições de Ensino Superior e ao curso escolhido, esses jovens confrontam diversos desafios como o nível de ensino cobrado, o grau de autonomia mais elevado que se proporciona pelo novo contexto, a saída de casa e a distância de amigos e familiares, as exigências pessoais e a capacidade de administrar tempo e dinheiro, o compromisso em conseguir aprender e aproveitar as oportunidades da formação (Freitas, Raposo & Almeida, 2007).
Lacerda (2016) traz a necessidade de perceber que a entrada na universidade se dá concomitantemente à entrada na vida adulta, levando o jovem à necessidade de adaptação a um novo contexto. Quanto ao espaço universitário, Montoya (2010) ressalta que observa-se na universidade a produção de situações que ocasionam sofrimento em seus protagonistas e acabam passando despercebidos. No entanto, os efeitos causados pelo sofrimento continuam se manifestando nos estudantes e comprometendo o bom funcionamento e ocasionando desequilíbrio em todo o ambiente universitário.
A exigência de uma carreira profissional, além das exigências externas, próprias da vida de adulto, sobrecarrega o jovem adulto, podendo até comprometer o seu desempenho acadêmico de tal maneira que podem impactar na qualidade de vida, que vai muito além de um conceito que engloba os espaços culturais, sociais ou o estado psicológico, qualidade de vida corresponde a como o respondente se percebe e como avalia tal conceito dentro da sua realidade (Lacerda, 2016; Fleck, 2000).
A rotina acadêmica se torna uma tarefa difícil tanto para jovens quanto para adultos, devido às inúmeras responsabilidades que lhes são atribuídas, assim como coloca Lacerda (2016). Diante disto, grande parte dos jovens se preocupam em demasia e começam a questionar sua capacidade de corresponder às demandas, o que gera angústia emocional na vida do estudante. Sendo o peso das responsabilidades colocadas no indivíduo durante o curso um dos causadores do adoecimento mental, que transformam e somatizam esses fatores e em noites sem dormir, em sintomas de: ansiedade, depressão e estresse, ligadas a falta de apoio de familiares e amigos que se encontram distantes.
Outro fator que parece ser preponderante para o estresse nos universitários segundo Costa e Leal (2008), está ligado ao fato das expectativas geradas antes mesmo de ingressar na universidade, o vislumbre da carreira que se estima ter para a profissão escolhida. Essa perspectiva de futuro e o medo do incerto são fatores que implicam diretamente no psicológico dos estudantes, podendo causar sofrimento psíquico definido por Mari e Willians (1986) como um conjunto de manifestações de mal-estar psíquico de origem desconhecida e inespecífica que causam repercussões psicofisiológicas que podem gerar limitações.
São estes alguns dos desafios que os estudantes de ensino superior têm de enfrentar e que exigem mudanças para conseguirem adaptar-se, o que irá contribuir para a saúde mental destes indivíduos (Costa & Leal, 2008). A Organização Mundial da Saúde (1964), define saúde como muito mais que ausência de doença e enfermidades, mas a integração do bem-estar físico, mental e social. Nesse aspecto, a saúde mental pode ser compreendida como o equilíbrio emocional entre as necessidades e as exigências ou vivências externas. É difícil manter tudo equilibrado com uma rotina corrida de um universitário, que sem tempo para se cuidar acaba deixando de lado sua saúde, inclusive, a mental, que é indispensável para a o bem-estar dos indivíduos e da sociedade (Cortez, 2017).
Assim, as demandas surgidas na vida universitária podem agravar ou desencadear problemas de saúde mental, que para Chow (2010) afetam o funcionamento global da vida dos estudantes de ensino superior, ou seja, os âmbitos físico, emocional, cognitivo, social e o seu desempenho acadêmico. Isso se deve a exposição a condições adversas, e que muitas vezes não proporcionam uma boa qualidade de vida, podendo influenciar no desenvolvimento de transtornos como a depressão e que vão impactar diretamente no desenvolvimento acadêmico, consistindo em uma questão preocupante, visto que, os sintomas depressivos podem evoluir para um quadro mais grave de depressão, deixando o estudante vulnerável, dando inclusive vazão a pensamentos suicidas (Turini & Trevizan, 2014).
Assim, as representações que os universitários de Psicologia têm a respeito da manutenção de sua saúde mental no decorrer do curso, é importante para compreender os aspectos subjetivos e atribuição de significados que cada acadêmico sente e experiencia a respeito do que é ser universitário no curso de Psicologia e a saúde mental nesse contexto. Apoiando-se na Teoria das Representações Sociais desenvolvida por autores desta área como Serge Moscovici (1978), Denise Jodelet (1989), Jean Claude Abric (1994) e demais autores pertencentes à área, pois entende-se que o sujeito não é predeterminado, ele é capaz de elaborar, reelaborar e alterar o significado das coisas com as quais interage no ambiente social (Silva, Dias & Pimenta, 2014).
Para Moscovici (2003), as Representações Sociais são produtos da atividade humana, elaboradas a partir da interação sujeito-objeto social, que orienta a conduta e a comunicação dos indivíduos. Elas representam a relação sujeito-objeto, ou seja, não somente o objeto, mas também a pessoa que o representa, estando situada no senso-comum, sendo um conceito e um fenômeno que pertencem ao subjetivo e ao intersubjetivo, simultaneamente.
Desta forma, o processo de construção de representações do estudante universitário sobre si mesmo e coisas que lhe cercam diariamente é processada através da troca de conhecimentos e experiências grupais vividas em sociedade, neste caso, no ambiente acadêmico, que vão se repetindo ao longo do percurso, elaborando um conhecimento que é partilhado por todos os envolvidos. Pois, assim como coloca Jodelet (1989) as representações não existem de forma isolada, necessitando de uma articulação na lógica em que o sujeito se encontra e interage cotidianamente para se tornar um saber.
A partir dessa compreensão, julga-se importante o estudo baseado na Teoria das Representações Sociais, por ser capaz de aproximar e compreender a significação e a forma como estudantes de Psicologia se posicionam diante da análise de si mesmos como universitários, de sua área que lida diretamente com a Saúde Mental e como estes concebem a sua própria, que é implicada pelo contexto do percurso acadêmico. Afinal, estes estudantes, futuramente em sua atuação profissional irão lidar com a promoção da saúde, como agentes operantes através de suas práticas. E assim, poder perceber as reais necessidades a que as universidades devem se atentar para melhorar a qualidade de vida dos graduandos dessa área do conhecimento durante o percorrer do curso.
A pesquisa exploratória não probabilística (intencional e acidental), realizada com 63 estudantes do curso de Psicologia, entre 18 e 36 anos, sendo 18 do sexo masculino (28,6%) e 45 do sexo feminino (71,4%). Destes, 55 estão solteiros, 3 casados e 5 namorando, 40,3% não faz terapia. Quanto ao tempo dedicado a atividades de lazer semanalmente, 70,5% disponibilizam apenas de 5 a 8 horas semanais para atividades fora da universidade. Salienta-se que elegeu-se estudantes que cursavam entre o 3° e 10° período, já que os períodos iniciais não haviam disponibilidade de horários livres para sua participação da referida pesquisa.
Para a coleta de dados da pesquisa, utilizou-se como instrumentos o Teste de Associação Livre de Palavras (TALP), auxiliando nos processos que favorecem a revelação de desejos fundamentais, elementos de conflitos, momentos significativos da história de vida e as representações sociais relacionadas a objetos e fenômenos (Neves, 2014).
No processo de aplicação do TALP, foram utilizadas 3 palavras estímulos: 1- universitário, 2- psicologia e 3- saúde mental, consideradas antecipadamente para os objetivos da investigação, escolhidas na busca de compreender o que para os participantes significa ser universitário, e ainda, como eles compreendem saúde mental, visando assim, a relação dos termos com a saúde psíquica dos universitários diante das problemáticas e fatores estressantes da graduação.
Foram designados um minuto para cada palavra, sendo utilizados cerca de 3 minutos para que cada participante respondesse o Teste de Associação Livre de Palavras, ao final, os participantes enumeraram as palavras por ordem de significância.
No mesmo instrumento respondeu-se um questionário sociodemográfico para caracterização da amostra. Por último, utilizou-se em média 15 minutos para a aplicação total do instrumento para cada participante.
A aplicação foi realizada em sala de aula, com a autorização dos professores presentes, que cederam o tempo necessário, e em relação aos dois últimos períodos, a aplicação foi realizada na sala de Atividades Grupais da Clínica Escola de Psicologia com as devidas autorizações e disponibilidade dos participantes que se encontravam em horário de estágio. Sendo requisitados 10 voluntários de cada período afim de alcançar uma amostra igualitária nos semestres decorrentes do curso.
Inicialmente apresentou-se o objetivo da pesquisa e após a explicação do funcionamento do TALP, sendo válido mencionar que não houve nenhuma recusa em participar da presente pesquisa. Iniciou-se a aplicação de forma coletiva, apresentando o seguinte enunciado “escreva as cinco primeiras palavras o que lhe vem à cabeça quando digo a palavra universitário (primeira palavra estímulo)”, o mesmo procedimento foi utilizado com as outras duas palavras (2- psicologia e 3- saúde mental).
Os dados do questionário sociodemográfico foram transcritos para o programa IBM SPSS na versão 21 (2012), e foram feitas análises estatísticas descritivas, obtendo assim, as informações necessárias para a caracterização da amostra. Os dados do Teste de Associação Livre de Palavras foram analisados de acordo com a literatura específica sobre a técnica de rede semântica (Vera-Noriega, J. A., Pimentel, C. E. & Albuquerque, F. J. B. 2005). As palavras foram inicialmente transcritas para o Excel, e utilizando a rede semântica que consiste considerando alguns pontos: Núcleo da Rede (NR), Peso Semântico (PS), Distância Semântica Qualitativa (DSQ).
O peso semântico foi adquirido através da classificação dos participantes para cada palavra associada ao estímulo, sendo as cinco palavras enumeradas de 1 a 5 por ordem de importância dada por eles. A palavra 1 é a palavra mais próxima e foi multiplicada por 5, a próxima que foi assinalada com 2 foi multiplicada por 4, até chegar ao número 5 que foi multiplicado por 1. O Núcleo de Rede de cada palavra foi colhido selecionando as cinco palavras que obtiveram o maior peso semântico, sendo essas palavras que melhor definem a palavra estímulo. Já a Distância Semântica Qualitativa foi adquirida através das palavras que definiram o Núcleo da Rede, a primeira palavra era a que possuía o maior peso a qual foi atribuída a porcentagem máxima (100%), e por meio da realização de uma regra de três simples, a porcentagem das demais palavras foram alcançadas.
A partir dos dados apreendidos demonstrou-se que Estudo foi a palavra que mais apresentou significado para os participantes quando expostos a palavra estímulo Universitário, apresentando o maior peso semântico, obtendo o valor máximo de 100% perante as outras associações feitas, dessa forma, ser universitário significa estudar. Ao ser expostos a este estímulo, foi possível colher significados subjetivos que cada indivíduo atribui ao seu papel como estudante de uma universidade. Sendo a palavra que possui maior representação deste grupo, referindo-se a necessidade de dedicação aos estudos que os universitários têm que apresentar, destaca-se a relevância e o “peso” do estudo na vida dos estudantes que por vezes se dedicam ao ofício exigido de tal modo que venha a ser um causador de sofrimento mental nesses indivíduos.
Destaca-se ainda na Tabela as palavras cansaço e ansiedade trazendo significados negativos perante a significação de ser universitário.
Núcleo de Rede | Peso Semântico | DSQ |
ESTUDO | 45 | 100% |
CANSAÇO | 24 | 53,3% |
ANSIEDADE | 12 | 26,6% |
TRABALHOS | 10 | 22,2% |
TEMPO | 4 | 8,8% |
Tabela 1. Rede Semântica das Representações Sociais sobre o estímulo universitário.
Quando o enunciado foi Psicologia, a palavra profissão aparece com o maior peso semântico, sendo esta a maior proximidade com a representação que os universitários têm da graduação a que pertencem e sua identidade profissional. Neste aspecto, infere-se a expectativa para o que se almeja após a conclusão do curso, um cargo para a realização do serviço da Psicologia e promoção do bem estar psíquico. Ela é, portanto, a palavra que obteve maior frequência e dessa forma, o valor mais alto de 100%, seguida de saúde, social, mente e ciência, todas estas, palavras que podem ser ligadas ao que é estudando no decorrer do curso de Psicologia e que se referem às áreas de estudo e/ou atuação.
Núcleo de Rede | Peso Semântico | DSQ |
PROFISSÃO | 35 | 100% |
SAÚDE | 16 | 45,71% |
SOCIAL | 12 | 34,28% |
MENTE | 10 | 28,5% |
CIENCIA | 4 | 11,42% |
Tabela 2. Rede Semântica das Representações Sociais dos estudantes sobre o estímulo Psicologia.
Salienta-se que a palavra necessário mostrou um percentual elevado (100%), obtendo o maior peso semântico quando a palavra estímulo Saúde Mental foi enunciada, elegendo-se essa como a que mais é capaz de representar a noção de saúde mental para estes estudantes.
Aqui o significado de Saúde Mental como algo primordial, pode ser compreendido de duas formas: primeiro, levando em consideração a representação pessoal de saúde mental, ou seja, como cada estudante compreende sua própria saúde, sendo assim algo necessário para eles, que é a consideração que buscamos com este estudo. Mas ainda, uma segunda perspectiva, a representação de saúde mental na área de estudo e profissão do curso de Psicologia, por se tratar de uma ciência que aborda diretamente este tema.
Em seguida, as palavras delicada, cuidado, bem-estar e sossego vêm trazer uma representação complementar, revelando os aspectos, que para os universitários são importantes para promover e conservar a saúde mental. Elas aparecem respectivamente, porém, com o peso semântico abaixo da primeira palavra já citada, demonstrando a Saúde Mental como algo imprescindível a que se deve atenção e zelo.
Núcleo de Rede | Peso Semântico | DSQ |
NECESSÁRIO | 60 | 100% |
DELICADA | 12 | 20% |
CUIDADO | 15 | 25% |
BEM-ESTAR | 6 | 10% |
SOSSEGO | 4 | 6,6% |
Tabela 3. Rede Semântica das Representações Sociais dos estudantes sobre o estímulo Saúde Mental.
Os resultados apreendidos junto aos universitários através do TALP possibilitaram adentrar no conhecimento dos participantes a respeito dos temas, assim como, observar e analisar, os campos de como eles representam a saúde mental e ser universitário no curso de Psicologia, que vem a ser o objetivo da pesquisa.
Baseando-a na Teoria das Representações Sociais pois como afirmou Cavedon (1999) a construção e avaliação de conceitos emitidos pelas pessoas correspondem a “teoria” do senso comum, onde as mesmas fazem uma reelaboração das informações decorrente de vários episódios ao nível das interações sociais sendo nesse contato do indivíduo com a sociedade que o mesmo constrói as suas próprias representações e as comunica para os demais indivíduos.
Foi possível verificar a partir da observação dos dados obtidos que quando expostos a palavra estímulo universitário, o foco gira em torno do Estudo, evidenciando que a visão que o universitário tem de si mesmo está relacionada diretamente ao fato de estudar, pois foi a palavra que apresentou o maior peso semântico obtendo a porcentagem máxima de (100%). Estes estudantes dedicam grande parte de sua rotina acadêmica aos estudos, abdicando até mesmo de atividades que não sejam do contexto acadêmico, como foi constatado no questionário sociodemográfico em que 70,5% dos participantes utilizam apenas de 5 a 8 horas semanais para lazer.
O foco dos estudantes universitários está voltado, na maior parte das vezes, para atividades da universidade como trabalhos, estágios, provas, monitorias. Além disso, ao modo que o curso avança, os universitários iniciam suas funções práticas e estágios, independente do campo estudado, aproximam-se cada vez mais da carreira, momento este marcado por diversas inquietações e dúvidas. A ocupação com estas atividades acabam por afastar a procura por coisas que ajudariam a promover sua saúde mental como a convivência com amigos e família, prática de esportes e recreação, e quando enfim conseguem tempo para realizar alguma não relacionada à universidade, já estão no limite do estresse, com a saúde mental já debilitada (Cortez, 2017; Oliveira, 2018).
A organização e otimização do tempo depende do próprio universitário, para conseguir realizar todas as tarefas como a produção de trabalhos, realização de provas e seminários buscando um melhor desempenho das notas, e também a aquisição de conhecimentos, pois assim como fala Lacerda (2016) a vida universitária tem características próprias e é nesse contexto de vida que os estudantes apresentam maior autonomia para fazer escolhas sobre a maneira que querem viver, nesse compasso, apresentam maior poder de decisão. Atrelados a essa autonomia surgem as diversas exigências inerentes do curso e a sobrecarga de conteúdos, que colaboram para a configuração do estresse, cansaço físico e mental sobre o acadêmico. Ainda há para muitos deles, os problemas aliados aos empasses financeiros que também podem perpassar pelo processo de formação (Bonifácio, Silva, Montesano & Padovani, 2011).
As palavras que se sucedem representam uma série de fatores que fazem parte da vida cotidiana de estudantes universitários. O empenho exacerbado nas atividades do contexto universitário pode causar diversos problemas, que vão surgindo durante todo o percurso acadêmico, não seria porventura as palavras cansaço (53%) e ansiedade (26,6%) possuírem respectivamente o segundo e terceiro maior Peso Semântico. O cansaço se deve ao grande número de afazeres e a forma como cada sujeito lida com eles, podendo desencadear a ansiedade, como constatado no estudo de Cruz e et. al (2010) a ansiedade é um sentimento comum entre os jovem enquanto universitário que encontram-se em processo de desenvolvimento, especialmente o estudante acadêmico, estando ele, muitas vezes, em situações propícias ao mal-estar e que provocam emoções como a ansiedade.
Além do mais, o mesmo encontra-se diante de diversos momentos acadêmicos, como os exames e seminários, entre variadas situações, que da mesma forma desencadeiam a ansiedade. Constatações que corroboram com os relatos de estudantes universitários no estudo de Bonifácio et. al (2011), que percebem como exemplos de manifestações de sobrecarga das atividades acadêmicas, o cansaço físico e sensação de esgotamento mental, além de sinais de alterações psicológicas e físicas que alteram a vida do sujeito.
Uma medida necessária para amenizar os impactos da rotina na vida acadêmica seria a psicoterapia, no entanto, como mostram os dados supracitados 40,3% dos sujeitos alvos da pesquisa afirmaram não fazer uso deste serviço, indicando a deficiência na procura ou no acesso do mesmo, assim, os estudante tem que enfrentar os problemas deste contexto sem o total apoio psicológico adequado. Carvalho & Martins (2018) comentam que, é necessário que os estudantes estejam em alerta dentre essas questões proporcionando espaços contemplados de acolhimento e conversas efetivas e que os docentes se atentem a essas situações. Assim como, devem ser observadas as implicações críticas dos alunos, não se pode tapar o olhar para as diversas declarações a respeito do curso e suas inúmeras deficiências e dificuldades que se dizem respeito a ausência de comunicação e espaços integradores (Pires, 2008).
Para a palavra estímulo Psicologia que procurou observar como o universitário caracteriza sua área de conhecimento, a palavra profissão aparece com o maior peso semântico em comparação com as demais, evidenciando a importância que o curso terá na construção do futuro profissional como psicólogo e a compreensão dos participantes quanto a sua identidade profissional. O universitário, através das experiências no decorrer do curso, avalia e toma decisões vocacionais que o direciona até a formação. A vida universitária propicia ao indivíduo o encontro de um ambiente favorável para desenvolver e aprimorar valores relacionados à sua futura vida profissional e pessoal, ou seja, durante todo o curso os estudantes pensam sobre suas futuras profissões e o seu percurso dentro da faculdade vai sendo traçado de acordo com isso (Bardagi, 2003; Barros, Borsari, Fernandes, Silva & Filoni, 2017).
Ressalta-se que Pimenta (2000) coloca identidade profissional como sendo construída a partir da significação social da profissão: trabalho, profissão, capacitação, ciência, futuro, ética, neste caso, do profissional psicólogo, que segundo Bock (2008) trabalham para ressignificar as experiências vividas, potencializando as pessoas como agentes ativos e de transformação de si mesmos e do mundo, o que leva as palavras que sucederam: Saúde (45,71%), Social (34,28%), Mente (28,5%), essas caracterizam objetos e áreas de estudo e atuação da Psicologia, com conteúdos que são transmitidos aos universitários durante todo o curso, justificando a associação feita com a palavra estímulo. A palavra Ciência aparece em último levando em consideração o grau de importância dado pelos participantes, possuindo uma Distância Semântica Qualitativa de 11, 42%.
Na palavra estímulo Saúde Mental foi possível observar qual representatividade ela tem na vida destes estudantes, seja como área de estudo ou implicações subjetivas e pessoais demonstrando que para eles a saúde mental é vista como indispensável na manutenção da qualidade de vida, assim como cita Silva, Daher & Baptista (2010) em seu estudo, sobre a preservação da saúde mental ser constituída como parte fundamental da saúde geral. As palavras subsequentes foram: Delicada, (20%) Cuidado (25%), Bem-estar (10%) e Sossego (6,6%). Podendo compreender assim, que para os estudantes o Cuidado com a Saúde Mental tem implicações diretas no Bem-estar das pessoas tendo inclusive, a visão de que Sossego remete também a um aspecto importante na manutenção da mesma, dessa forma, a representação que estes universitários têm quanto a Saúde Mental a coloca como fundamental para os indivíduos e a imprescindibilidade de mantê-la.
Em síntese, a partir das palavras associadas aos três estímulos foi obtida uma visão ampliada sobre os temas pesquisados podendo compreendê-los, bem como os sujeitos que os representaram, chegando a conclusões específicas acerca das suas representações sobre o contexto do grupo que estão inseridos, que envolveram questões subjetivas, afetivas cognitivas e interpessoais dos sujeitos analisados, expressas através das palavras associadas a cada estímulo enunciado. Pôde-se ter então, uma maior compreensão de como estudantes de ensino superior significam sua participação neste grupo, o que é ser universitário do curso de Psicologia e como esta condição está ligada a sua saúde mental.
A palavra estímulo universitário proporcionou o conhecimento de sentimentos contidos nas vivências pessoais dos participantes, com questões consideradas mais importantes, mas sendo válido ressaltar que neste enunciado surgiram associações (as palavras cansaço e ansiedade) que remetem a implicações negativas a qualidade de vida do sujeito. Portanto, o universitário quando estuda por um espaço longo de tempo, acaba se submetendo ao enfraquecimento de sua qualidade de vida, onde o estresse surge podendo desencadear sérios problemas em suas emoções e consequentemente no corpo (Carvalho & Martins, 2018).
A representação das palavras Psicologia e Saúde Mental proporcionou uma compreensão mais dirigida para o contexto de expectativa como futura profissão e conhecimentos adquiridos durante a formação, trazendo mais questões sobre os temas propostos do que a subjetividade dos indivíduos que fizeram a representação por meio da associação livre de palavras. No entanto, pode-se observar ainda, que a representação de Saúde mental desses universitários se mostrou como indispensável, considerando um aspecto individual, grupal ou relacionado aos estudos no decorrer do curso de Psicologia ligados a este tema.
É importante ressaltar que no Brasil, em relação à população universitária, observa-se que as investigações sobre a qualidade de vida e a saúde mental nesse contexto são escassas, com um número muito pequeno de estudos com estudantes do curso de Psicologia, o que se constatou na dificuldade de encontrar fontes teóricas para embasar os resultados obtidos, visto que, a grande parte das pesquisas neste âmbito se volta para outros públicos da área da saúde como medicina e enfermagem, ou para as áreas da saúde de modo geral.
A presente investigação buscou compreender como os estudantes universitários se representam o curso de Psicologia e como lidam com as adversidades da vida acadêmicas, e ainda, suas noções sobre saúde mental, tentando aproximar uma maior discussão acerca dos temas referidos voltando o olhar para o público-alvo da pesquisa, sendo possível entender os significados empregados pelos sujeitos bem como, o seu contexto.
Desta forma, este artigo revelou que as representações sociais acerca do estímulo universitários, que trouxe uma visão psicossocial que estes têm de si mesmos, apontando a importância do estudo na vida acadêmica com a dedicação da maior parte do seu tempo a isso, mas também, com a análise do conjunto de palavras associadas a este estímulo, possibilitou a simbolização do espaço Universidade e da rotina acadêmica, que é repleta de afazeres, e que, dependendo da forma de lidar com estes e a otimização do tempo, possibilitando ou não ter momentos de lazer fora desse contexto, pode vir a causar cansaço e também, ansiedade, visto que, grande parte da amostra não possui mais de 8 horas de lazer semanais e não fazem psicoterapia, os resultados desta palavra trouxeram assim, uma visão um tanto preocupante.
As palavras Psicologia e Saúde Mental revelam representações deles mais voltadas a identidade profissional do curso que virá a ser o seu futuro trabalho, e também, ser possível perceber a ligação que os sujeitos fizeram com questões da graduação e aprendizados que fazem parte da área de estudo em que estes se encontram, revelando que muito da representação que eles possuem sobre estas está voltada a conhecimentos adquiridos no curso que irão perdurar em seu futuro profissional.
Este estudo foi importante para compreender as representações dos estudantes de Psicologia acerca de si mesmo, sua área de conhecimento e sobre saúde mental, sendo revelada a importância de voltar estudos para este público em questão, notando-se carência dos mesmos, para que se pense nos graduandos de Psicologia e na manutenção da qualidade de vida dos mesmos, que irão se tornar futuros profissionais que trabalham como oportunizadores de produção de saúde.
Denota-se a necessidade de novas pesquisas para identificação de representações na vida cotidiana deste público, salientando ser significante voltar-se para as suas representações quanto sua rotina acadêmica, levando em consideração que o significado dos universitários sobre si mesmos revelou uma preocupação voltada a falta de tempo para o lazer devido às cobranças do seu contexto, o que pode desencadear problemas de instância psicológica. Sendo necessário ainda, que futuras pesquisas consigam abranger um número maior de participantes, e também, alcançar um contexto territorial maior, proporcionando uma compreensão mais próxima do contexto geral.
Por último, apesar das limitações de referencial teórico específicos para embasar o estudo, espera-se que o mesmo contribua para que este público seja mais vislumbrado, e sobretudo, considerar a melhoria de apoios psicológicos e psicopedagógicos a eles. Por ser uma temática ainda pouco discutida, percebeu-se a escassez de fontes de aporte teórico para embasar os resultados obtidos a partir dos dados analisados, sendo válido o maior investimento em pesquisas referentes aos temas propostos e ao público alvo em específico, buscando um maior número de participantes expandindo a amostra para um contexto territorial maior, proporcionando uma compreensão mais próxima do contexto geral.
Almeida, L.S., & Soares, A.P, (2014). Os estudantes universitários: Sucesso escolar e desenvolvimento psicossocial. In: E. Mercury e S. Polydoro (Eds.) Estudantes universitários: características e experiência de formação (p.15-40). São Paulo, SP.
Bardagi, M. P., & Paradiso, Â. C. (2003). Trajetória acadêmica e satisfação com a escolha profissional de universitários em meio de curso. Revista Brasileira de Orientação Profissional, 4(1-2), 153-166.
Barros, M. J., Borsari, C. M. G., Fernandes, A. O., Silva, A., & Filoni, E. (2017). Avaliação da qualidade de vida de universitários da área da saúde. Revista Brasileira de Educação e Saúde, 7(1), 16-22.
Bonifácio, S. D. P., Silva, R. C. B. D., Montesano, F. T., & Padovani, R. D. C. (2011). Investigação e manejo de eventos estressores entre estudantes de Psicologia. Revista Brasileira de Terapias Cognitivas, 7(1), 15-20.
Bock, A. M. B. (2008). Psicologias: uma introdução ao estudo de psicologia./Ana Mercês Bahia Bock, Odair Furtado, Maria de Lourdes Trassi Teixeira. 14ª edição. São Paulo: Saraiva.
Cavedon, N. R. (1999). As representações sociais dos universitários sobre o trabalho. XXIII ENCONTRO ANUAL DA ASSOCIAÇÃO NACIONAL DE PÓS-GRADUAÇÃO EM ADMINISTRAÇÃO. Anais... Foz do Iguaçu: ANPAD
Carvalho, K., & Martins, C. D. S. L. (2018). EFEITOS PSICOSSOMÁTICOS EM ESTUDANTES DURANTE A EDUCAÇÃO SUPERIOR: ALGUMAS INQUIETAÇÕES. Anais do Salão Internacional de Ensino, Pesquisa e Extensão, 9(3).
Cortez, E. A., Braga, A. L.S., Oliveira, A. G. S., Ribas., B. F., Mattos, M. M. G. R., Marinho, T. G., & Dutra, V. F. D. (2017). Promoção à saúde mental dos estudantes universitários. Revista Pró-UniverSUS, 8(1).
Costa, E., & Leal, I. S. A. B. E. L. (2008). Um olhar sobre a saúde psicológica dos estudantes do ensino superior–avaliar para intervir. Retirado de: http://www.isabel-leal.com/Portals/1/PDFs/7congresso/vii-congresso-saude-pp-213-216.pdf.
Cruz, C., Pinto, J., Almeida, M., & Aleluia, S. (2010). Ansiedade nos estudantes do ensino superior. Um estudo com estudantes do 4º ano do curso de licenciatura em enfermagem da Escola Superior de Saúde de Viseu. Millenium, 223-242.
Fleck, M., Louzada, S., Xavier, M., Chachamovich, E., Vieira, G., Santos, L., & Pinzon, V. (2000). Aplicação da versão em português do instrumento abreviado de avaliação da qualidade de vida" WHOQOL-bref". Revista de saúde pública, 34, 178-183.
Freitas, H. C. D. N. M., Raposo, N. D. A. V., & Almeida, L. S. (2007). Adaptação do estudante ao ensino superior e rendimento académico: um estudo com estudantes do primeiro ano de enfermagem. Revista portuguesa de pedagogia, 179-188. Retirado de: http://impactum-journals.uc.pt/rppedagogia/article/download/1191/639.
Jodelet, D. (1989) Lés representations sociales. Paris: PUF.
Lacerda, A. N. D. (2016). Indícios de estresse, ansiedade e depressão em estudantes universitários. Monografia (Licenciatura em Pedagogia), Universidade de Brasília, Brasília. Disponible en [http://bdm.unb.br/bitstream/10483/12965/1/2015_%20AnaNeredeLacerda.pdf]
Mari, J. J., & Williams, P. (1986). A validity study of a psychiatric screening questionnaire (SRQ-20) in primary care in city of São Paulo. British Journal of Psychiatry, 148, 23-26.
Montoya, L.M., Gutiérrez, J.A., Toro B.E., Briñón M.A., Rosas E., & Salazar L.E.Q., (2010). Depresión en Estudiantes universitarios y su asociación con el estrés académico. Rev CES Med ;24(1): 7-17
Moscovici, S. (2003). Representações sociais: Investigações em Psicologia Social. Petrópolis, RJ: Vozes.
Neves, D. A. B., de Brito, R. C., Códula, A. C. C., Teixeira, J., & Tavares, D. W. S. (2014). Protocolo verbal e teste de associação livre de palavras: perspectivas de instrumentos de pesquisa introspectiva e projetiva na ciência da informação. PontodeAcesso, 8(3), 64-79. Recuperado de: https://rigs.ufba.br/index.php/revistaici/article/view/12917/9240.
OMS. (1964). Comité de expertos de la OMS en helmintiasis. Washington, Ser. Inf. Tec., 277.
Pimenta, S.G. (2000). Org. Saberes pedagógicos e atividade docente. São Paulo, Cortez.
Pires, L. H. S. (2008). Formação do psicólogo: perspectivas de alunos de um curso de graduação (Doctoral dissertation, Universidade de São Paulo).
Silva, R., Dias, A.A., & Pimenta, S.A. (2014). Profissionalidade e formação docente: representações sociais de professores. Rev. Diálogo Educ., Curitiba, v.14, n.42, p.549-568.
Silva, A. T. B., & Guerra, B. T. (2014). O impacto da depressão para as interações sociais de universitários. Estudos e pesquisas em psicologia, 14(2)
Souza, M. S., Baptista, A. S. D., & Baptista, M. N. (2015). Relação entre suporte familiar, saúde mental e comportamentos de risco em estudantes universitários. Acta Colombiana de Psicología, 13(1), 143-154.
"Todos los trabajos publicados en Revista Salud & Sociedad (ISSNe:0718-7475) están sujetos a una licencia Creative Commons Reconocimiento 4.0 Internacional"